Blog do raimundo

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Este é o Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores no Transporte Coletivo Urbano de Goiânia e Região Metropolitana. O sindicato foi fundado em 2009 para representar e tocar as lutas dos rodoviários de nossa região.

domingo, fevereiro 11, 2007

OLHA LÁ, O MOLEQUE TÁ SENDO ESFOLADO!

A cena brutal de uma criança de seis anos sendo esfolada viva tomou conta do imaginário brasileiro dos últimos dias. Foi um símbolo. Tanto da violência, problema social que se agrava cada vez mais, mas principalmente da indiferença. Não apenas das pessoas que cometeram o crime, uma indiferença no mínimo doentia, mas da sociedade.
Não se pode ignorar que a indiferença é um problema social, que atinge a todos. A exclusão social, a pobreza, os mais de cem anos de fim de escravidão que não foram resolvidos. Uma sociedade injusta, competitiva, individualista e conseqüentemente indiferente. Não só no Brasil mas em outros grandes países capitalistas. Li em uma revista recentemente que um manual ensina as mulheres gritarem “fogo” caso estejam sendo estupradas, pois se gritarem que estão sendo violentadas a reação das pessoas é fugir.
Ora, quem já não foi indiferente com a quem está sendo assaltado? Ou com algum caso de corrupção? Indiferença é algo necessário para sobreviver, pois temos uma justiça feroz para quem rouba um bife para alimentar os filhos, mas a bondosa com quem comete crimes brutais.
Por isto me assusta um pouco o fato de a criança ter sido arrastada por quinze quilômetros, os ladrões conseguirem fugir e a denúncia só ter sido feita depois. Eles passaram por ruas movimentadas. Dezenas de pessoas viram. Passaram inclusive perto de postos de policiais, de uma base do exército e de um bar. Tudo a olhos vistos. Alguém denunciou na hora? Alguém se preocupou em chamar a polícia imediatamente? Não. Alguém deve até ter comentado: “olha lá, o moleque ta sendo esfolado” voltou para casa com medo e não fez nada.
Todos nós o esfolamos. A cidade inteira. Claro que a etapa final do processo foi feita por gente sem nenhum sentimento moral, mas a cidade maravilhosa foi cúmplice. A indiferença mata. Mata quando milhões de pessoas são colocadas em guetos sem nenhuma chance de sair de lá. Mata quando muita gente é incapaz de girar a cabeça por quarenta e cinco graus e ver quem está lavando o chão. Quando a exclusão gera um ambiente favorável à violência. Quando uma sociedade corrupta e consumista vende a ilusão de ascenso social rápido e fácil. Quando o valor de uma pessoa é o carro que anda e a roupa que veste.
E aí, quando a indiferença se transforma em susto, pois amanhã pode ser meu filho, surgem as soluções. Diminuição da maioridade penal. Leis mais rigorosas. Pena de morte. Por mais que se institua o esfolamento dos que fizeram isto, não adianta leis se elas não funcionam, ou funcionam de modo diferente para cada casta social. A máquina do estado está fisicamente e moralmente sucateada. A lei não pode estar em todos os lugares em todos os momentos. Mas a indiferença pode. Ela ocupa cada rua, casa janela e cada bueiro da cidade.

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domingo, fevereiro 04, 2007

O CONGRESSO ESTÁ MAIS DE ESQUERDA?

É interessante ver na eleição da câmara dos deputados uma disputa que só se via em eleições de sindicatos e DCEs: PT versus PcdoB. O sonho da social-democracia de eleição após eleição e esquerda ir ganhando deputados até que o congresso tenha uma maioria para implementar o socialismo estaria começando a se concretizar? Vejamos.
Desde o início da implementação do sistema pluripartidário, no fim da ditadura militar, podemos ver um crescimento ininterrupto dos partidos colocados pela mídia de centro e esquerda. Isto tem despertado esperanças em parcelas progressistas do eleitorado e de parte da militância dos movimentos sociais. Considerando como “partidos de esquerda” o PT, PcdoB, PDT, PSB, PPS(antigo PCB), PV, PSOL, PHS e PMN, desde 1982, quando das primeiras eleições livres, podemos observar sim o aumento da “esquerda”. Naquele ano esta esquerda ocupava apenas 7,5% da câmara dos deputados, passando para 9,6% em 1986, 20,1% em 1990 e 22,4% em 1994.
A década de 90 foi um tanto reacionária, fazendo o crescimento ser menor, porém ainda existente A esquerda parlamentar se manteve com os mesmo 22,4% em 1998, quando Fernando Henrique se reelegia. Em 2002, quando o executivo foi ganho por esta esquerda, seu tamanho no congresso foi de 32,5% e em 2006 passou, mesmo com a crise do PT, para 36,8%.
No senado, casa reacionária por natureza, também é observado um perfil diferente dos senadores. Em 1982, quando os senadores biônicos ainda estavam em seus mandatos, os partidos de esquerda tinham apenar um senador. Em 1990 já tinha treze, ou 16,4%. Hoje conta com cerca de 30% das cadeiras.
O PT só parou de crescer em 2006. Em 1982 eram apenas oito petistas, ou 1,7% do congresso. E ainda por cima alguns foram expulsos por votar na eleição indireta para presidente. Depois foi para 35 em 1990, ano posterior à derrota eleitoral de Lula nas eleições contra o hoje senador lulista Fernando Collor. Em 2002 o PT chegou a ter 17,7% do congresso, com 93 deputados, tendo pouco menos que isto hoje. No senado, movimento semelhante acompanha o Partido dos Trabalhadores.
Até que ponto isto é positivo para a classe trabalhadora do país? Será mesmo que Lula só não fez um governo realmente de esquerda porque o congresso ainda não tem uma maioria de esquerda? Se fosse isto então a solução seria “segurar as pontas” do atual governo até, quem sabe em 2010, a maioria do parlamento seja esquerdista. Ledo engano.
É bom notar que, junto com este crescimento do “campo progressista” também houve um crescimento das políticas neoliberais no congresso. Na década de 80 a constituinte conseguiu vários avanços como a auditoria da dívida externa(não realizada até hoje), a inclusão da função social da propriedade e o direito de greve.
Depois, independente do tamanho do PT ou do PDT, ocorreram as privatizações, a política monetária de Fernando Henrique(em voga até hoje) e as reformas que tiram direitos de trabalhadores, como a da previdência. Porque isto acontece?
Porque o que acontece não é um crescimento real de um campo político da classe trabalhadora ou mesmo um campo progressista do congresso, mas sim uma substituição das velhas oligarquias, cada vez mais desgastadas, por novos grupos que agem a favor dos mesmo interesses. Na década de 80, o campo democrático e popular realmente aumentava dentro e, o que é mais importante, fora do parlamento. A constituinte foi um meio de canalizar as mobilizações populares para dentro do regime burguês, mas várias concessões tiveram que ser feitas, pois os sindicatos, o movimento estudantil e a opinião pública como um todo eram atuantes.
Na drástica década de 90 o aumento das legendas de esquerda foi acompanhado contraditoriamente por um enfraquecimento dos movimentos populares e por uma diminuição do pensamento crítico na opinião pública. Isto “descolou” os partidos de esquerda de suas bases sociais, fazendo com que seus burocratas, para sobreviverem, buscassem se tornar políticos adaptados aos interesses das elites.
Hoje algumas dessas legendas se transformaram até mesmo em partidos de aluguel, como o PPS. O que um século não fez com os ex-anarquistas que fundaram o PCB? As que tinham raízes fincadas nos movimento sociais, PT e PCdoB, se transformaram em verdadeiros agentes da classes dominante nos mesmos, aparelhando, burocratizando e desacreditando entidades perante sua base.
Não apenas nas votações ou na “crise ideológica” podemos perceber este fenômeno. Mas em algo bem mais palpável: o financiamento de campanhas. Um diferencial entre uma candidatura com respaldo popular e uma candidatura das elites é o dinheiro gasto nas campanhas, afinal um candidato realmente popular não precisa das grandes fortunas que os coronéis precisam para garantir votos. E empresa nenhuma na face da terra, em especial no Brasil, financia candidatos de graça. Portanto é bom notar quem financia estas campanhas para ver quais interesses os deputados vão defender depois de passar pelo incomodo processo de pedir votos ao povo.
Vamos começar pelo “grupo ético” do congresso. Gabeira, tido como exemplo de independência, recebeu 40 mil reais da união dos bancos brasileiros e 100 mil de uma empresa siderúrgica. Raul Jungman, do PPS, recebeu mais de 60 mil de indústrias farmacêuticas, 50 mil do Unibanco e 50 mil do Itaú, na sua cara campanha de mais de um milhão de reais. O Itaú inclusive é generoso, pois doou 100 mil para Paulo Renato, do PSDB de São Paulo, além de financiar as campanhas de outros deputados.
Vamos para os dois candidatos que disputaram as eleições. Chinaglia e Aldo receberam da construtora Camargo e Correa 70 mil e 200 mil respectivamente. Seria a disputa pela presidência da câmara uma disputa “dentro de casa”? Suas campanhas ficaram em torno de um milhão e quatrocentos mil reais cada, quantia parecida com o a direitista Paulo Renato. O comunista Rebelo inclusive recebeu 100 mil da companhia siderúrgica nacional(assim com Chinaglia, que recebeu 70 mil), que foi privatizada por FHC e 50 mil da Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo.
A tradicional direita coronelista diminui no Brasil porque com uma esquerda dessas ninguém precisa de direita. Os bancos, as faculdades particulares, as empresas que disputam licitações e a agiotagem que toma conta do nosso dinheiro está bem servida com nossos socialistas e comunistas do congresso. Isto é uma demonstração do quão falsa pode ser a esperança de ver a esquerda aumentar a cada eleição até que o socialismo chegue pela via do voto. As mortes de Miguel Arraes e de Brizola foram simbólicas neste sentido. Seus projetos de um Brasil desenvolvimentista, que pudesse trazer mudanças progressivas para a classe trabalhadora dentro do capitalismo se tornam cada vez mais inviáveis por causa da crise que o sistema passa.
Só para lembrar. As bancadas dos “três porquinhos” PP, PR(antigo PL) e PTB, que reúnem o esterco do esterco da política como Maluf, Severino chique-chique, Collor, Roberto Jéferson, entre outros, também cresceram nos últimos anos, especialmente depois da vitória de Lula. E os dados deste artigo só apenas de caixa um, quantia declarada pelo TSE.