SE LULA VOLTAR A FUMAR, EU VOTO NELE
Década de oitenta. Um grupo de repórteres cerca o então ex-sindicalista e fundador do Partido dos Trabalhadores para uma bateria de perguntas. Antes de esboçar qualquer reação, o entrevistado dá uma intensa tragada em seu cigarro na frente das câmeras, para depois responder sua pergunta.
Este era o Lula que fumava. Aliás, ainda fuma, mas em hipótese alguma na frente das câmeras. Afinal, o politicamente correto, o “marketing pessoal” diz que pessoas ilustres não podem ter atitudes demasiado humanas nos holofotes da imprensa. Barba aparada, terno impecável, dentes serrados. Lula foi moldado à risca para parecer qualquer coisa(de acordo com as pesquisas qualitativas), menos um ser humanos, que entre outros defeitos aceitáveis(falo aqui dos aceitáveis), fuma.
O marketing e rigor estético tomam conta do mundo político, que faz com que os políticos de hoje pareçam bonecos. Afinal, aparência e discurso dentro de padrões politicamente corretos é que dão votos. Já que o discurso programático faliu. Trocas de acusações, bem, estas se empatam em seu macabro jogo de pingue-pongue, não tendo efeito diferencial.
Vendo vídeos de debates antigos me impressiono. Os candidatos eram mais espontâneos. Falavam com mais freqüência o que dava em suas telhas. Hoje seria impossível o fantástico debate entre Maluf e Brizola nas eleições de 89. Brizola esbraveja, quase espumando: - filhote da ditadura! Maluf responde rindo: -ora, ficou quinze anos no exterior e não aprendeu nada. A platéia cai nas gargalhadas. Brizola, sem perder a pose, aponta o dedo para platéia e grita: -filhotes da ditadura, vocês são todos filhotes da ditatura! Isto sem falar nas várias tiradas, respostas, ironias e outras peripécias que marcaram os debates em 1989.
Os candidatos se pareciam mais humanos. Como foi durante toda a década de oitenta. As diferenças pareciam mais definidas. Direita parecia direita, sem medo de ser preconceituosa e elitista. Esquerda parecia esquerda, sem medo de ser utópica e populista. Nenhuma saudade das denúncias sobre vida pessoal alheia, é claro. Mas é bom lembrar que naquela época, em um Brasil que se abria para o regime liberal, o povo queria ver nos debates pessoas com quem se identificasse, sem a superioridade rançosa que os militares exalavam. Pessoas que fumam, que riem, e que têm preconceito.
Na atual eleição, a padronização estética acaba por camuflar o mal estar ético. As pesquisas de opinião substituem o feling dos políticos. O discurso político amorfo (um tipo de neoliberalismo politicamente correto) foi imposto pelas agências de publicidade para todas a legendas. As táticas comerciais transformam os candidatos em refrigerantes, destes que a gente bebe nos domingos e joga a garrafa fora. Não cabe espaço para autenticidade, esta não dá voto. É o que dizem os especialistas em escrever livros do tipo
“ conquiste o mundo em dez lições”.
Voto no Lula se ver ele fumando em frente às câmeras de novo. Se ele voltar a se mostrar para os holofotes ser um homem comum, que fuma, tosse, e tem alguma tique nervoso, passo a confiar nele. Uma pessoa assim tem menos o que esconder. Mas o que se verá nos debates entre Lula e Alckmin será dois homens educadinhos, arrumadinhos, politicamente corretos, perfumados, com português impecável e papagueando os chavões que seus marqueteiros lhes passaram. Como bonecos do estilo “comandos em ação”. E já passei da idade de me impressionar com bonecos.
Este era o Lula que fumava. Aliás, ainda fuma, mas em hipótese alguma na frente das câmeras. Afinal, o politicamente correto, o “marketing pessoal” diz que pessoas ilustres não podem ter atitudes demasiado humanas nos holofotes da imprensa. Barba aparada, terno impecável, dentes serrados. Lula foi moldado à risca para parecer qualquer coisa(de acordo com as pesquisas qualitativas), menos um ser humanos, que entre outros defeitos aceitáveis(falo aqui dos aceitáveis), fuma.
O marketing e rigor estético tomam conta do mundo político, que faz com que os políticos de hoje pareçam bonecos. Afinal, aparência e discurso dentro de padrões politicamente corretos é que dão votos. Já que o discurso programático faliu. Trocas de acusações, bem, estas se empatam em seu macabro jogo de pingue-pongue, não tendo efeito diferencial.
Vendo vídeos de debates antigos me impressiono. Os candidatos eram mais espontâneos. Falavam com mais freqüência o que dava em suas telhas. Hoje seria impossível o fantástico debate entre Maluf e Brizola nas eleições de 89. Brizola esbraveja, quase espumando: - filhote da ditadura! Maluf responde rindo: -ora, ficou quinze anos no exterior e não aprendeu nada. A platéia cai nas gargalhadas. Brizola, sem perder a pose, aponta o dedo para platéia e grita: -filhotes da ditadura, vocês são todos filhotes da ditatura! Isto sem falar nas várias tiradas, respostas, ironias e outras peripécias que marcaram os debates em 1989.
Os candidatos se pareciam mais humanos. Como foi durante toda a década de oitenta. As diferenças pareciam mais definidas. Direita parecia direita, sem medo de ser preconceituosa e elitista. Esquerda parecia esquerda, sem medo de ser utópica e populista. Nenhuma saudade das denúncias sobre vida pessoal alheia, é claro. Mas é bom lembrar que naquela época, em um Brasil que se abria para o regime liberal, o povo queria ver nos debates pessoas com quem se identificasse, sem a superioridade rançosa que os militares exalavam. Pessoas que fumam, que riem, e que têm preconceito.
Na atual eleição, a padronização estética acaba por camuflar o mal estar ético. As pesquisas de opinião substituem o feling dos políticos. O discurso político amorfo (um tipo de neoliberalismo politicamente correto) foi imposto pelas agências de publicidade para todas a legendas. As táticas comerciais transformam os candidatos em refrigerantes, destes que a gente bebe nos domingos e joga a garrafa fora. Não cabe espaço para autenticidade, esta não dá voto. É o que dizem os especialistas em escrever livros do tipo
“ conquiste o mundo em dez lições”.
Voto no Lula se ver ele fumando em frente às câmeras de novo. Se ele voltar a se mostrar para os holofotes ser um homem comum, que fuma, tosse, e tem alguma tique nervoso, passo a confiar nele. Uma pessoa assim tem menos o que esconder. Mas o que se verá nos debates entre Lula e Alckmin será dois homens educadinhos, arrumadinhos, politicamente corretos, perfumados, com português impecável e papagueando os chavões que seus marqueteiros lhes passaram. Como bonecos do estilo “comandos em ação”. E já passei da idade de me impressionar com bonecos.
3 Comments:
ótimo texto, cara. acho que eu também votarei no lula se ele voltar a fumar em frente às câmeras. e se, quem saber, enfiar o dedo mindinho no nariz. valeu.
O texto é literário. Você entendeu de modo LITERAL. Eu votarei nulo independente do que Lula faça até dia 29
Caro Raimundo
Gostei do seu jeito de escrever. Só achei que falta uma conclusão política do que fazer para avançarmos na luta de classes. Percebe-se que é um texto pouco panfletário e mais jornalístico.
Você deve conhecer a Corrente O TRABALHO [MAIORIA] do PT. Estamos para sair do PT, chamamos voto nulo no 1º turno. No 2º chamamos voto 13 para barrar ALCKMIN e acertamos as contas com o Lula mais tarde.
Na nossa opinião, assim como você escreveu no outro artigo, não está em jogo uma disputa de classes nessas eleições. Se o Lula perder, o trabalhador perde, mas se o Lula ganhar, isso não significa que os trabalhadores ganharão.
Entre no site do nosso jornal e veja, entre outras coisas, nossa declaração do 2º Turno da Eleições. E fique à vontade para me enviar seus comentáios: www.otrabalho.org.br
Em fim, me simpatizei pelo seu modo de escrever e refletir a luta de classes. Se preferir, pode me enviar mais coisas.
Um abraço!
Flávio
flavioirj@gmail.com
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